
Eu era louca pra ter um cachorro de verdade. Tenho um tio que cria cachorro desde que eu me entendo por gente. E sempre que eu ia pra casa de praia dele, ele me ensinava tudo sobre cachorro. Deixava eu passear com os dogs dele, brincar...mas enquanto eu não podia ter um de verdade, me contentava com meu Snif.
A gente dormia junto todos os dias. No lugar do travesseiro no meio das pernas, era ele que me colocava pra dormir. Eu era tão apegada a ele, que onde eu fosse, eu levava. Qualquer viagem. Sempre juntos. Eu e Snif.
Nos ensinamentos da vida, minha mãe sempre dizia que quando a gente morresse, não levaria nada pro céu. Que tudo ficaria aqui. E isso me deixava triste. Pq eu queria levar Snif comigo. Em minhas orações, eu sempre pedia, se era possível quando eu morresse, levar Snif comigo. Mas à medida que eu fui crescendo, fui percebendo que era uma missão impossível.
Depois vieram os cachorros de verdade. Me lembro que minha primeira cadela (aprendi com meu tio a gostar mais das fêmeas que dos machos e sempre dei preferência às meninas), se chamava Sany. Era uma Cocker. Antes de ganha-la, rezei tanto, mas tanto. Me lembro que eu estava na casa de meu pai, olhei pra uma planta e pensei: “quando ela estiver grande, eu vou ganhar meu cachorro.” Rezei 100 pai nossos e 100 ave Marias. E quando a plantinha cresceu de fato, eu ganhei minha primeira cadelinha. E como de praxe, todo filhote adora roer tudo. E Snif foi um de seus alvos. Minha mãe reformou e tudo. Costurou Snif todo. Ele já estava todo remendadinho quando chegou a segunda cadela, Hannah. Em meados dos meus 15 anos, Snif era quase pano puro. O algodão já quase não existia dentro dele. Ele era o preferido dos cachorros de verdade. E na minha tentativa de praticar o desapego às coisas materiais, fui deixando ele pra lá. Até o dia que o resto do paninho dele desapareceu completamente. Não sobrou nada pra contar história.
E acreditem, até hoje ele me faz a maior falta. Sempre que vou dormir me lembro dele. Não tem travesseiro que substitua meu Snif. Fora que se ele ainda existisse, me deixaria mais presa ao meu passado, aos meus pais. Ontem eu de TPM, não conseguia dormir direito. Aquele nervosinho que vem de dentro, que só quem é mulher sabe. Tosh, o cachorro de verdade chorando, cagando, mijando. E meu Snif virou lenda. Eu amo Tosh. Mas ontem eu queria meu Snif. Que inclusive, era IDENTICO a esse da foto. Depois dizem que tudo é substituível. Eu não acho. Acho exatamente o contrário. Que tudo e todos são únicos e INSUBSTITUÍVEIS.
O que passou, nao volta mais. Mas o que está agora, pode ficar pra sempre. Hoje, eu sei disso.
Nostalgia...